segunda-feira, 19 de maio de 2008

Como cães e gatos

Existem muitos casais que vivem em constante clima de guerra e paz
Por Mônica Vitória • 10/05/2008


Carolina Grecchi e Leonardo Dias não ficam três dias sem uma briguinha. Entre tapas e beijos, eles namoram firmemente - com algumas idas e vindas - há quatro anos. E por que continuam às rusgas? Difícil entender. Carolina diz que Leonardo está sempre implicando com ela. "Quando não é com uma brincadeirinha, às vezes de mau gosto, é com algum comentário desnecessário. Ele não tem papas na língua e acha que essa 'sinceridade' toda não machuca. Sem contar que ele tem um jeito meio 'paradão', o que me deixa irritada às vezes", afirma a estudante, de 22 anos. Já Leonardo põe a culpa em Carolina, jurando que é ela que todo dia arranja um motivo para discutir: "Ela fica nervosa com qualquer coisinha. Tem sangue quente e pavio curto. Mesmo quando fazemos as pazes ou estamos numa boa, ela começa algum assunto polêmico só para a gente discordar. E começa tudo de novo", declara o estudante de direito, de 23 anos.



Assim como eles, há muitas pessoas que insistem em relacionamentos conturbados, fazendo juras de amor apesar de viverem às turras com os parceiros. Alana Barros, de 27 anos, confessa que também se encaixa neste perfil. Namorando há um ano e meio, ela garante que é completamente apaixonada e que isso não impede que os desentendimentos ocorram com freqüência. "A gente briga muito, mas na maioria das vezes é por besteiras. Meu namorado diz que sou ciumenta e mimada, mas apenas exijo que me tratem com respeito e que ele, principalmente, se esforce em demonstrar carinho", argumenta. Talvez Alana até tenha razão em se preocupar com o namorado - ele é DJ e trabalha em inúmeras festas madrugada afora. Mas, nesse caso, não seria melhor procurar outro alguém? "De jeito nenhum! Sei que tem horas que exagero um pouco nos ciúmes, e isso acaba gerando discussões. Mas somos loucos um pelo outro e não demoramos a nos reconciliar. Quando isso acontece, aliás, é ótimo. Sempre voltamos mais apaixonados", assevera, acrescentando que o namorado também adora dar uns ataquezinhos de ciúme.



De início, achava que era assim mesmo, e quando a poeira baixava até ríamos do ocorrido. Depois, perdoava os insultos, pois faziam parte da personalidade dele. Mas tudo isso foi desgastando o meu sentimento, até que resolvi dar um basta

É claro que uma briguinha ou outra é normal e acontece, como se diz, "nas melhores famílias". Entretanto, a constância e a intensidade podem ameaçar a relação. A psicóloga e terapeuta de casais Cecília Zylberstajn não vê esse tipo de comportamento como algo saudável. "A briga nada mais é do que uma maneira hostil de lidar com uma diferença. Esta diferença pode ser, por exemplo, uma necessidade não satisfeita, algo que o parceiro faz que incomode, um desejo de mudança no outro, uma decepção com o companheiro", explica a psicóloga, destacando que esta não é nem deve ser a única maneira de resolver problemas. "O casal que só aborda as suas diferenças por meio de brigas não consegue crescer e se desenvolver. Quando falamos de forma agressiva, o conteúdo da nossa mensagem fica prejudicado. A pessoa lembra do momento, do mal-estar, dos palavrões, dos xingamentos, mas a mensagem não fica clara", observa.


Feridas que ficam



Beatriz*, de 30 anos, já sofreu muito com os bate-bocas que ela e seu ex-marido protagonizaram - muitas vezes, em público. Embora não gostasse de como o relacionamento foi se desenrolando, ela manteve o casamento por cinco anos. "Toda vez que tentava discutir a relação, por que algo me incomodava, havia uma discussão muito pior. De início, achava que era assim mesmo, e quando a poeira baixava até ríamos do ocorrido. Depois, perdoava os insultos, pois faziam parte da personalidade dele. Mas tudo isso foi desgastando o meu sentimento, até que resolvi dar um basta", revela Beatriz, que hoje procura um amor tranqüilo e carinhoso. "Se o casal não se entende, um dos dois precisa dar o braço a torcer e levantar a bandeira branca. Aprendi que, de vez em quando, alguém tem que ceder. Esse alguém, porém, não pode ser sempre a mesma pessoa", opina.

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